Como o sujeito se prende à narrativa do fracasso
- Luciano Ribeiro
- 5 de ago.
- 2 min de leitura
Atualizado: 6 de ago.

Na terapia, é comum ouvir o sujeito dizer:“Não adianta, eu sempre vou errar.”“É melhor ninguém se aproximar de mim.”“Se me derem uma chance, eu vou estragar.”
Essas frases não surgem do nada. Elas são marcas de experiências precoces, falas que o sujeito ouviu, sentiu, internalizou — e agora repete.
A narrativa como lugar psíquico.
Para a psicanálise, o sujeito ocupa lugares simbólicos na sua história. E, muitas vezes, esse lugar é o da falha, do inadequado, do que nunca será suficiente.
Essa narrativa inconsciente não apenas se repete, ela organiza a vida: escolhas, relacionamentos, recaídas. A substância, nesse cenário, surge não apenas como fuga — mas como confirmação:"Tá vendo? Eu sou mesmo um fracasso."
A função inconsciente do fracasso.
Por mais paradoxal que pareça, fracassar pode ser confortável. Por quê?
Porque é conhecido.Porque evita o desconhecido da mudança.Porque preserva o papel que o sujeito aprendeu a desempenhar.
Freud chamava isso de compulsão à repetição.Lacan diria que o sujeito goza de seu sofrimento — encontra um tipo de prazer inconsciente na dor familiar.
Quando a melhora assusta mais do que a queda.
O sujeito em recuperação muitas vezes tem medo de dar certo.Medo de se responsabilizar.Medo de perder a “desculpa” da droga.
Porque ser feliz exige autorizar-se a sair do papel de vítima — e isso implica romper com a narrativa do fracasso.
Como a terapia psicanalítica pode ajudar?
O espaço clínico não é lugar de julgamento, mas de escuta.Nele, o sujeito pode:
Nomear a narrativa que o prende
Questionar os papéis que repete
Se apropriar da própria história
Criar novos significantes sobre si
A cura, aqui, não é deixar de errar — mas poder se reposicionar diante dos próprios erros sem se afundar neles.
Conclusão
“Eu sou o problema” é uma frase que esconde uma história inteira.Uma história que pode ser contada de outro jeito.
Romper com a narrativa do fracasso não é negar o que foi vivido.É permitir-se escrever um novo enredo, onde o sujeito não é mais prisioneiro da repetição — mas autor de um novo caminho.
Por Luciano Ribeiro — Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise
Baixe o ebook gratuito : Compulsão, quando o sintoma sobrevive a abstinência.
Faça parte do meu grupo de WhatsApp gratuito.



Comentários