O familiar como “cuidador compulsivo”
- Luciano Ribeiro
- 30 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 2 de ago.

Quando o cuidado esconde um gozo inconsciente
Na vivência com um dependente químico, é comum encontrarmos familiares que se dedicam intensamente ao cuidado — marcam consultas, controlam horários, vigiam amizades, escondem dinheiro, pagam dívidas, e vivem em função da recuperação do outro. À primeira vista, tudo isso pode parecer apenas amor e dedicação. No entanto, a psicanálise nos convida a escutar algo mais profundo.
Quando o cuidado ultrapassa o cuidado.
Segundo Lacan, o gozo pode se manifestar em lugares inesperados — inclusive na posição de quem cuida. Isso significa que o familiar pode, sem perceber, extrair um prazer inconsciente ao ocupar o lugar de "salvador" ou "responsável". O problema é que, muitas vezes, essa posição impede que o dependente assuma a própria responsabilidade subjetiva e mantenha o ciclo da dependência funcionando.
O cuidador e o fantasma da indispensabilidade
Esse cuidado obsessivo pode esconder o temor de perder o lugar que sustenta o laço familiar: “Se ele melhorar, quem serei eu?”. Assim, o sofrimento do outro passa a garantir o sentido da própria existência. Em termos psicanalíticos, o sujeito se identifica com o sintoma do outro e faz do cuidado uma compulsão própria.
A falsa ilusão de controle
Ao tentar controlar o comportamento do dependente, o cuidador compulsivo busca controlar também sua própria angústia. A dependência do outro se torna o álibi para não olhar para si. Assim, o familiar permanece alienado na dor do outro, evitando o confronto com a sua própria falta.
Quando o cuidado adoece
É importante diferenciar o cuidado que sustenta do cuidado que aprisiona. Cuidar também pode significar permitir que o outro se responsabilize por si. Romper com a posição de “cuidador compulsivo” exige um processo de escuta interna, de reconhecimento dos próprios limites e de resgate da autonomia emocional.
“Há familiares que cuidam tanto do outro que se esquecem de si — mas, no fundo, talvez seja disso mesmo que estejam fugindo.”
Por Luciano Ribeiro — Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise
Baixe o ebook gratuito : Compulsão, quando o sintoma sobrevive a abstinência.
Faça parte do meu grupo de WhatsApp gratuito.



Comentários