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O Triângulo da Auto-Obsessão: um olhar psicanalítico sobre a dependência

  • Foto do escritor: Luciano Ribeiro
    Luciano Ribeiro
  • 18 de ago.
  • 2 min de leitura
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No Narcóticos Anônimos existe uma expressão que ressoa profundamente: o triângulo da auto-obsessão. Ele descreve como a mente do dependente químico fica aprisionada em três pontos — passado, presente e futuro — que, em vez de se abrirem para o desejo e para o novo, se tornam repetição e prisão psíquica.Mas o que isso significa quando olhamos pela lente da psicanálise?


O passado: culpa, vergonha e retorno do recalcado


O dependente muitas vezes revive lembranças dolorosas: erros cometidos, relações destruídas, promessas quebradas. Na psicanálise, isso se conecta ao conceito freudiano de repetição do recalcado: aquilo que não foi elaborado retorna como sintoma. Assim, a obsessão pelo passado não é só memória — é a tentativa inconsciente de manter viva uma narrativa conhecida, mesmo que dolorosa.


O presente: vazio e insatisfação


No presente, o sujeito enfrenta a falta estrutural. A droga funcionava como resposta imediata para calar esse vazio. Sem ela, o sujeito se vê diante da angústia crua, e muitas vezes busca novos sintomas: controle, compulsões, moralidade rígida. Lacan nos lembra: “O desejo nasce da falta”. No entanto, quando o sujeito não consegue simbolizar essa falta, o presente se transforma em peso insuportável.


O futuro: medo e angústia diante do impossível


O futuro, para o dependente, costuma estar marcado pelo medo: medo de não conseguir, de fracassar, de nunca mudar. Na perspectiva psicanalítica, esse medo toca a dimensão do impossível da completude — a certeza de que não existe garantia absoluta. A angústia aparece justamente quando o sujeito se confronta com esse vazio do que virá.


Como romper o triângulo?


O NA propõe o lema “Só por hoje” como forma de sair do aprisionamento do tempo. Na psicanálise, esse movimento é ampliado: romper o triângulo exige dar palavra ao sintoma, nomear a repetição e permitir-se desejar algo novo. Não se trata de apagar o passado, controlar o presente ou garantir o futuro, mas de simbolizar a falta e abrir espaço para um modo singular de existir.


Conclusão


O triângulo da auto-obsessão mostra que a luta do dependente químico não é apenas contra a droga, mas contra uma prisão psíquica que envolve tempo, desejo e inconsciente.A clínica, seja nos grupos de ajuda mútua ou no espaço psicanalítico, pode ser o lugar onde o sujeito descobre que não precisa permanecer fiel à narrativa do sofrimento — ele pode escrever uma nova história.


Por Luciano Ribeiro — Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise


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