Pornografia e Dependência Química: Quando o Sintoma Muda de Forma
- Luciano Ribeiro
- 9 de ago.
- 2 min de leitura

Na clínica com dependentes químicos, um relato é recorrente: durante o uso da droga, a busca por pornografia e práticas sexuais extremas se intensifica. O que para alguns parece apenas uma “fantasia” ou “excesso momentâneo” revela, na verdade, um mecanismo psíquico mais profundo.
O Papel da Droga na Intensificação do Sintoma.
A droga não cria desejos do nada — ela reduz as barreiras internas, desfaz filtros morais e aumenta a impulsividade.(falarei de maneira mais profunda sobre essas barreiras psíquicas em outros posts) Isso faz com que conteúdos que estavam recalcados (guardados no inconsciente) apareçam com força. No caso da pornografia, essa liberação se mistura com a busca compulsiva de estímulo, criando um ciclo onde o sujeito passa horas em busca de novas imagens, cenas ou experiências.
Lacan nos lembra que o gozo (jouissance) não é apenas prazer — é um prazer que pode ultrapassar o limite e se tornar sofrimento. Na dependência, essa lógica é potencializada: o corpo busca mais, mais e mais, mesmo quando o prazer já se transformou em angústia.
Pornografia como Substituto e Extensão.
Quando a droga não está disponível, a pornografia pode se tornar um “substituto químico” — uma tentativa de obter a mesma descarga de dopamina e excitação que a substância oferecia.O problema é que, assim como no uso de drogas, o consumo de pornografia pode entrar em uma escalada: o que antes excitava já não basta, levando à busca por conteúdos mais intensos, extremos ou transgressores.
O Perigo da Dissociação.
Muitos dependentes relatam que, durante essas práticas, não estão “presentes” — o corpo está ali, mas a mente está anestesiada. É um tipo de dissociação, onde a sexualidade deixa de ser encontro e se torna fuga.Freud já nos dizia que o sintoma é uma formação de compromisso: uma tentativa falha de lidar com um conflito interno. Nesse sentido, a pornografia, como a droga, pode estar tentando resolver algo impossível de ser plenamente satisfeito.
Conclusão.
O trabalho terapêutico não é condenar o uso de pornografia ou a prática sexual, mas escutar:
O que o sujeito busca nesse excesso?
Que vazio ele tenta preencher?
Que fantasias ou dores antigas ele tenta calar?
Quando conseguimos simbolizar essa busca, a compulsão perde força — e o sujeito pode encontrar novas formas de viver sua sexualidade e lidar com a falta.
Por Luciano Ribeiro — Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise
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