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Quando o trauma é a raiz: A ausência paterna.

  • Foto do escritor: Luciano Ribeiro
    Luciano Ribeiro
  • 25 de ago.
  • 2 min de leitura
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Na clínica, encontramos histórias que não cabem em explicações rápidas. Um dos traumas mais dolorosos é o da rejeição paterna — não a ausência física apenas, mas a ausência simbólica, aquela que fere a identidade.

Esse foi o caso de um paciente que acompanhei: rejeitado repetidas vezes pelo pai biológico, cada tentativa de aproximação terminava em recusa. O desejo natural de ter um lugar no olhar paterno se transformava em ferida constante, dificultando sua relação consigo mesmo, suas escolhas e até sua confiança na vida.


A ferida da rejeição e a identidade


O pai, para Freud, representa muito mais do que a figura biológica. Ele é um significante estruturante, alguém que dá limite, transmite reconhecimento e simboliza pertencimento. Quando esse lugar falha, o sujeito pode ficar preso num vazio identitário:

  • Quem sou eu se não sou reconhecido pelo meu pai?

  • Como posso decidir algo se não tenho uma referência de validação?

Esse vazio gera insegurança, dificuldades em tomar decisões e, muitas vezes, a sensação de ser “menos” diante da vida.


A necessidade do luto


O que propusno processo terapêutico foi algo paradoxal, mas necessário: viver o luto de um pai que ainda está vivo. Esse luto não significa odiar ou apagar o pai, mas aceitar a realidade da ausência, por mais dura que seja. Enquanto o paciente insistisse em esperar um gesto de reconhecimento, estaria preso na repetição da rejeição.

Ao acolher o luto, ele pôde começar a dizer a si mesmo:“Meu pai não foi o que eu precisava. Mas eu posso ser para mim aquilo que me faltou.”


A elaboração psíquica


O luto, nesse contexto, é a travessia da dor. É permitir-se chorar por aquilo que nunca se teve, para enfim abrir espaço para construir algo novo. Freud já dizia que o luto é o processo necessário para desligar a libido de um objeto perdido. Nesse caso, não é o corpo do pai que foi perdido, mas a função simbólica que ele não ocupou.

O trabalho clínico buscou criar lugar para esse vazio ser reconhecido e simbolizado. Ao invés de fugir da dor ou repetir a esperança frustrada, o paciente começou a escrever uma nova narrativa sobre si.


Conclusão


O trauma da rejeição paterna não se apaga, mas pode ser ressignificado. Elaborar o luto do pai vivo foi um gesto de coragem: aceitar a ausência, deixar de esperar o impossível e construir um sentido próprio para a própria vida.

Esse processo mostra que a cura, na psicanálise, não é ter um pai perfeito ou apagar a dor, mas transformar a ferida em lugar de criação.


Por Luciano Ribeiro — Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise


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