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Droga: Pulsão de Morte

  • Foto do escritor: Luciano Ribeiro
    Luciano Ribeiro
  • 23 de jul.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 9 minutos

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Neste texto, quero refletir sobre algo fundamental: por que a droga, para além de um vício, se torna uma força que empurra o sujeito para a morte? Não falo apenas do ponto de vista orgânico, mas da perspectiva psíquica, onde a lógica do prazer imediato se transforma em um mecanismo autodestrutivo.


Antes, vale lembrar um dado clínico essencial: enquanto o comportamento do dependente químico segue padrões próprios da doença, fruto de alterações diretas no cérebro e no sistema nervoso central, a droga interfere profundamente nos processos que regulam pensamento, percepção e emoção. Isso significa que a subjetividade é capturada, e o comportamento foge à instância do próprio controle.


Eu já falei sobre isso em outros conteúdos, como nos vídeos do meu canal [Interferência da Droga no Aparelho Psíquico] e [Distorções Cognitivas]. Ambos mostram como as substâncias sequestram a mente, desorganizando funções psíquicas.

Agora, entrando no objetivo deste texto: a droga não é apenas um objeto de prazer, ela é uma engrenagem pulsional que, ao longo do tempo, transforma a vida do sujeito em um caminho rumo à morte.


O que Freud nos ensina sobre isso?

Na teoria freudiana, pulsão (Trieb) é a representação psíquica de um estímulo orgânico que exige satisfação. Freud define a pulsão como uma força essencialmente inconsciente que impele o sujeito em direção a algo, mesmo que esse algo o prejudique (Freud, 1915 Pulsões e Destinos da Pulsão).

Quando falamos de fissura (abstinência), estamos falando da expressão desse mecanismo: o corpo exige a droga, e a psique traduz essa exigência em representações, em imagens mentais que ocupam o pensamento, distorcendo a realidade.


O dependente, intoxicado, passa a interpretar a vida segundo essa lógica pulsional: tudo gira em torno do objeto que promete alívio imediato. Como Freud observa, “a pulsão é uma força constante” não descansa, não aceita negociação.

Lacan complementa: o gozo é aquilo que ultrapassa o prazer e toca o excesso, o ponto em que satisfação e dor se misturam (Lacan, Seminário 11). É isso que vemos na dependência: a droga não dá só prazer, dá dor, mas, paradoxalmente, é essa dor que sustenta a repetição.


Por que chamamos de pulsão de morte?

Freud descreve no texto Além do Princípio do Prazer (1920) que existe no ser humano uma tendência regressiva, uma busca pelo inorgânico, pela redução de tensão e chamou isso de pulsão de morte (Todestrieb). Na adicção, isso fica claro:

  • A droga satisfaz o corpo, mas mata a alma.

  • A droga alimenta a urgência, mas destrói as relações.

  • A droga promete vida, mas empurra para a inexistência.

Quanto maior a intoxicação, mais o organismo clama pelo alívio rápido. O que antes era escolha vira sobrevivência. O sujeito passa a viver para usar e usa para viver, num ciclo mortal: dor → alívio → mais dor → repetição.


Minha conclusão prática

A droga é pulsão de morte porque:

✔ Mata aquilo que é mais sagrado: o amor-próprio.

✔ Destrói o que compõe a vida: relações e afetos.

✔ Reduz a vida a uma busca cega por prazer orgânico, aniquilando o espiritual

✔ Leva o sujeito a uma forma primitiva de ser, uma viagem de retorno ao estado inorgânico.


Quando eu usava, inconscientemente, caminhava nessa direção. Cada tragada, cada dose, era um passo rumo ao fim.


O antídoto? Pulsão de vida.

A sobriedade é a expressão da pulsão de vida, da força que busca ligação, construção, sentido. Mas isso é tema para outro texto.

Hoje, quero que você entenda: a droga é combustível propulsor de morte inconsciente.Escolha viver. Escolha consciência.


Por Luciano Ribeiro Terapeuta em Dependência Química | Estudante de Psicanálise


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